sábado, 25 de outubro de 2008

Formação da Consciência Crítica 1.Subsídios Filosóficos Culturais

A realidade

“A realidade é um dado, mas só existe para nós, enquanto conhecida, interpretada. A realidade como dado absolutamente bruto, sem interpretação, não é realidade humana. Numa palavra, não existe para nós. Por outro lado, a nossa interpretação não é decodificação perfeita, completa, idêntica á realidade. É uma interpretação, uma aproximação da realidade. É mediação que nos possibilita aceder à realidade, possuí-la cognitivamente. Somente o conhecimento de Deus, porque é criativo, penetra totalmente a realidade”. João Batista Libânio

Uma das mediações mais comuns entre nós e a realidade usada na igreja, é a Teologia. Ela nos serve de instrumental de análise da realidade.

“Os instrumentos de análise permitem-nos aceder, aproximar-nos da realidade de modo correto, se bem elaborados. Eles são mediações necessárias. Mas sempre mediações. Como necessárias, não podem ser desprezadas, nem dispensadas. Como mediações, não podem ser absolutizadas, hipostasiadas, eternalizadas. Nem o relativismo, para o qual tudo depende do arbítrio subjetivo, nem o dogmatismo absolutizante, para o qual possuímos a realidade na sua nudeza total e inalterável. “ JBL

Sendo a Teologia apenas um instrumental, ela não pode ser absolutizada, nem dispensada, como citado no parágrafo acima.

“Todo instrumental, enquanto mediação permite-nos, de um lado, acesso à realidade e, por outro lado, deve ser discutido, corrigido, complementado, na medida em que percebemos melhores meios de atingirmos a realidade. Ele deve estar sempre aberto a críticas, a novas colaborações, a correções e a aperfeiçoamentos.” JBL

Entre os meios de atingir a realidade estão as outras ciências. A filosofia, por exemplo, é um instrumental que percebe aspectos que a Teologia não percebe sobre a realidade. Por isso ela não pode ser desprezada ou demonizada.

“Algumas pessoas, por possuir um instrumental bem elaborado, e, portanto, dominando uma série de elementos verdadeiros sobre a realidade, depositam excessiva confiança em tal compreensão. Confundem a sua leitura decodificante do dado objeto com a totalidade desse dado.” JBL

“Quando confiamos demasiadamente no nosso instrumental de análise, somos levados à ilusão de que nosso conhecimento esgota a complexidade do ser, e nos oferece a segurança intransigente diante de qualquer outra interpretação.” JBL

Se isso acontece, acontece o fundamentalismo, o dogmatismo: a verdade e a realidade estão absolutamente contidas na minha interpretação.

“Cada instrumental possibilita a percepção de um aspecto, desvenda certos mecanismos da realidade. Por isso, diante de cada instrumental, devemos logo de início fazer-nos idéia precisa de sua função e de seu limite, de sua possibilidade e de sua incapacidade. Sobretudo é fundamental afastar a orgulhosa pretensão de segurança total de dominar o real.” JBL

Por isso precisamos pensar Teologia sempre como algo que nos aproxima da realidade, e não como algo que decodifica toda a realidade.

Para concluir, A Teologia é a base teórica da fé. Por essa razão, como diz Leonardo Boff, “as verdades da fé precisam ter correlação com as experiências da vida, caso contrário elas não se validam por não se aproximarem da realidade.”.

Lucas Lujan


Texto base: Libânio, João Batista. Formação da Consciência Crítica 1. Subsídios filosóficos-culturais. 3ª Ed. Petrópolis: Vozes, 1982.

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